ATA DA PRIMEIRA REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA PRIMEIRA COMISSÃO REPRESENTATIVA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 28.01.1997.

 


Aos vinte e oito dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha,  a Comissão Representativa da Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dez horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adeli Sell, Carlos Garcia, Clovis Ilgenfritz, Eliseu Sabino, Fernando Záchia, João Dib,  José Valdir, Juarez Pinheiro, Maria do Rosário, Reginaldo Pujol e Renato Guimarães, Titulares, e Antônio Losada, Cyro Martini, Elói Guimarães e Luiz Braz, Suplentes. Constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Reunião Extraordinária, destinada ao debate acerca do Projeto de  Emenda Constitucional nº 54/95, que versa sobre a possibilidade de  reeleição para Prefeitos, Governadores e Presidente da República, conforme Requerimento nº 14/97 (Processo nº 376/97), de autoria  do Vereador Guilherme Barbosa. Compuseram a Mesa: o Vereador Clovis Ilgenfritz, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre;  o Professor Raul Pont, Prefeito Municipal de Porto Alegre;  o Deputado Estadual Beto Albuquerque, Presidente Estadual do Partido Socialista Brasileiro; o Senhor David Stival, da Direção Estadual do Partidos dos Trabalhadores; o Vereador Elói Guimarães, da Direção Estadual do Partido Democrático Trabalhista; o Vereador Luiz Braz, do Partido Trabalhista Brasileiro; o Senhor Adalberto Frasson, Presidente Estadual do Partido Comunista do Brasil; o ex-Vereador Raul Carrion; o Senhor Daniel Sebastiani, Presidente Estadual do Partido Comunista Brasileiro; o Vereador Idalmir Feitosa, Secretário-Geral da Câmara Municipal de Fortaleza; o  Vereador Carlos Garcia, 3º Secretário deste Legislativo. Em continuidade, o Senhor Presidente respondeu Questão de Ordem do Vereador João Dib, acerca do encaminhamento dos trabalhos da presente Reunião, em especial no referente à possibilidade de  pronunciamento por parte dos presentes, informando ser esta Reunião  regida pelo mesmo processo que estabelece as reuniões das Comissões Permanentes. Também, foi aprovada sugestão do Senhor Presidente, de fixação do tempo de cinco minutos para os pronunciamentos a serem realizados. Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Renato Guimarães considerou justa a realização do presente debate, convocando a todos para uma ampla mobilização contra o processo de reeleição e contra o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. O Vereador Reginaldo Pujol ratificou sua posição favorável à reeleição, que considera um aprofundamento do processo democrático brasileiro. A Vereadora Maria do Rosário destacou a importância do fato desta Casa não se omitir em um momento tão importante para a política do País, afirmando que o projeto de reeleição representa um "aviltamento" à Constituição  Federal.  O  Vereador Juarez Pinheiro classificou como ilegal e anti-ético o Projeto de Emenda Constitucional nº 54/95, lembrando as lutas da década passada na busca da elaboração de uma Carta Constitucional que atendesse aos anseios da população. O Vereador José Valdir salientou que o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso está recebendo forte apoio dos meios de comunicação, lendo poema de sua autoria, intitulado "Latinha ou Poeminha Neoliberal". O Vereador João Dib questionou a regimentalidade da presente Reunião Extraordinária, atentando para os problemas oriundos do não cumprimento rigoroso da legislação municipal, estadual ou federal. O Vereador Fernando Záchia colocou sua posição favorável à reeleição, classificando-a como um direito do cidadão, o qual poderá decidir pela continuidade ou não de um governo. O Vereador Carlos Garcia declarou que o Partido Socialista Brasileiro é radicalmente contra a reeleição, criticando o encaminhamento dado pelo  Presidente Fernando Henrique Cardoso à votação do Projeto de Emenda Constitucional nº 54/95. O Vereador Adeli Sell lembrou propaganda favorável à reeleição, divulgada nos meios de comunicação, lamentando que, enquanto o povo clama por soluções para problemas sociais, o Presidente da República prioriza anseios particulares por poder. O Vereador Luiz Braz registrou que esta Reunião não é um ato contra a reeleição, mas um  encontro para debater o assunto. Falou sobre os gastos do Executivo Municipal com publicidade, questionando a forma como o Partido dos Trabalhadores garantiu a vitória de seus candidatos nas últimas eleições municipais.  Na ocasião, o Senhor Presidente respondeu Questão de Ordem do Vereador Luiz Braz, acerca do encaminhamento dado à presente Reunião, afirmando que este encontro destina-se a discutir o tema "reeleição". Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Cyro Martini, lembrando que manter o povo alienado é objetivo dos partidos que primam pelo conservadorismo, declarou ocorrer, a nível federal, um desligamento dos problemas maiores do País. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador Juarez Pinheiro refutou na íntegra as críticas feitas ao Partido dos Trabalhadores pelo Vereador Luiz Braz, chamando-as de  levianas e não verdadeiras. O Vereador Luiz Braz conceituou o  termo "leviano", dizendo não ser ele adequado as suas afirmações no período de Comunicações de hoje, as quais podem ser devidamente comprovadas. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos representantes de entidades presentes.  O Senhor Moacir Leiria, representante do Movimento Unitário dos Trabalhadores Gaúchos, traçou paralelo entre a situação hoje vivida pela Argentina e o processo de privatizações no qual se encontra inserido o Brasil, declarando ser o movimento que representa contrário à reeleição dos Executivos, em especial pela forma como a mesma é proposta. O Senhor Geraldo Cruz, representante da Comissão Gaúcha em Defesa do Monopólio Estatal do Petróleo e Petrobrás, afirmou que as normas que regem o País estão sendo estabelecidas fora da nossa fronteira, classificando como crime  histórico o que  vem sendo feito em termos de mudanças constitucionais. O Senhor  José  Campos,  representante  do  Movi<MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>mento dos Sem Terra, protestou por ser a reeleição colocada, hoje, como  solução para os problemas brasileiros, apresentando abaixo-assinado a ser enviado aos gabinetes de todos os Deputados que votarão o Projeto de Emenda Constitucional nº 54/95. O Vereador Elói Guimarães, representante da Direção Estadual do Partido Democrático Trabalhista, atestou a importância deste ato, lembrando que a democracia tão arduamente buscada pelo  povo brasileiro não é aquela na qual, em pleno recesso parlamentar, é modificada a lei maior do País. Finalizando, propugnou pela ida às ruas contra as privatizações.  O Senhor David Stival, da Direção Estadual do Partido dos Trabalhadores, analisou os objetivos reais da reeleição, defendendo a continuidade e ampliação dos protestos contra a política sócio-econômica vigente no Brasil.  O Senhor Daniel Sebastiani, Presidente Estadual do Partido Comunista Brasileiro,  afirmou que o projeto de governo do Presidente  Fernando Henrique Cardoso está entregando o País para o capital internacional, sendo esta a situação que se tenta manter através da busca da reeleição dos Executivos. O Senhor Adalberto Frasson, Presidente Estadual do Partido Comunista do Brasil, definiu a reeleição como um "golpe sofisticado" visando levar adiante "um projeto anti-pátria e anti-povo", devendo  a comunidade porto-alegrense mostrar claramente sua resistência a essa situação. O Vereador Idalmir Feitosa, da Câmara Municipal de Fortaleza, agradeceu a recepção recebida por esta Casa, solicitando apoio em campanha que vem organizando, a nível nacional, contra o voto secreto nas casas legislativas. O Deputado Beto Albuquerque, Presidente Estadual do Partido Socialista Brasileiro,  disse que o dia de hoje, qualquer que seja o resultado da votação no Congresso Nacional, deverá marcar a história do País, analisando o verdadeiro significado da discussão do Projeto de Emenda Constitucional nº  54/95. O Professor  Raul Pont, Prefeito Municipal de Porto Alegre,  traçou paralelo entre as situações sócio-econômicas observadas em países onde ocorre a reeleição de Executivos, dizendo que o Projeto de Emenda Constitucional nº 54/95 em nada beneficia a população nem representa qualquer avanço democrático. Ainda, repudiou críticas hoje aqui feitas pelo Vereador Luiz Braz ao Partido  dos Trabalhadores. Durante a  Reunião,  o  Senhor  Presidente  registrou  as  presenças  dos Senhores André Hohlsback,  do Movimento dos Sem Terra; Sérgio Matte, da Federação dos Metalúrgicos; Eliezer Pacheco,  do CPERS Sindicato;  Guiomar Vidor,  da Federação do Sindicato dos Comerciários; Luiz Pilla Vares, Presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores; Cezar Przygodzinski, Presidente do Sindicato dos Petroleiros; Maria Augusta Feldmann, Deputada Estadual; Marina Durganti, Presidente do Sindicato do Servidores da Câmara Municipal de Porto Alegre;  Maristela Heck, do Sindisepe; Elvino Bohn Gass, Deputado Estadual; Chaves Sidarta Machado Domingos, Presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Protásio Alves; Enio Santos, Diretor da Região Sul da Federação dos Metalúrgicos; Alcindo Kempfer, Tesoureiro da Federação dos Metalúrgicos;  Inácio  Fritzen,  da  Executiva Estadual do <MOLD=2 pt><MF=27 mm><PF=12 mm><LF=164 mm><AF=261 mm>Partido  dos  Trabalhadores; Cecília  Hipólito,  Deputada  Estadual;  Luiz Carlos Martins, do Sindiserv; Jairo Carneiro, Presidente da Central Única dos Trabalhadores/RS; Silvana Trein, da Central Única dos Trabalhadores/Metropolitana; Paulo de Leandro, do Sindijust . Ainda, registrou o recebimento de correspondência relativa a presente Reunião, de parte dos Deputados Valdir Reschio e Miguel Ressoto e do Senhor João Carlos Vasconcelos, Diretor-Presidente da Empresa Porto-Alegrense de Turismo. Também, registrou a realização de ato, hoje, pelo Fórum de Luta Contra a Reeleição, na Esquina Democrática, e de reunião, na próxima quinta-feira, às nove horas, na Federação dos Metalúrgicos, a ser organizada pelo Movimento Unitário dos Trabalhadores Gaúchos, para organização da luta contra a reeleição. Às doze horas e trinta minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando  os Senhores Vereadores para a Reunião Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz e secretariados pelos Vereadores Carlos Garcia e Juarez Pinheiro, este como Secretário "ad hoc". Do que eu, Carlos Garcia, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores lº Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Reabrimos, em segunda chamada, a 1ª Reunião Extraordinária da 1ª Comissão Representativa da 12ª Legislatura. Conforme ficou decidido na Reunião Ordinária da Comissão Representativa do dia 23.01.97, por requerimento assinado pelo Ver. Guilherme Barbosa,  seria realizada essa Reunião Extraordinária para discutir o tema da reeleição.

Solicitamos a todos os presentes que tomem os seus lugares.

Estão presentes, também, o Ver. Elói Guimarães, membro da Comissão Representativa, do PDT; o Ver. Cyro Martini, do PT. Convidamos, para fazer parte da Mesa, o Sr. Prefeito Municipal Raul Pont; a Deputada Maria Augusta Feldmann; o Deputado Beto Albuquerque; o representante da Direção Estadual do Partido dos Trabalhadores, Secretário-Geral David Stival; representando o Partido Comunista do Brasil, o ex-Vereador Raul Carrion; o Presidente Estadual do PC do B, Adalberto Frasson; o representante da Direção Estadual do Partido Democrata Trabalhista, o Ver. Elói Guimarães; o representante do Partido Trabalhista Brasileiro, o Ver. Luiz Braz; o representante do Partido Progressista Brasileiro, Ver. João Dib; o representante do PMDB, Ver. Luiz Fernando Záchia.

Damos início a esta Reunião, sem prejuízo na composição da Mesa à medida que as pessoas estejam chegando. Temos representantes de partidos, do movimento sindical e do movimento comunitário. Está, também, presente a representação do Movimento dos Sem-Terra que, a seguir, estaremos anunciando para ser nominada pela Mesa nesta Reunião Extraordinária.

 

O SR. JOÃO DIB (Questão de Ordem):  Sr. Presidente, esta é uma Reunião Extraordinária sobre a qual tenho dúvidas. Convocada sob a égide do art. 42, que nada tem a ver, e também com base no art. 187, diz a Mesa que tudo se ajuíza no art. 83 do Regimento. Gostaria que fossem estabelecidas as condições. Nas nossas Sessões normais, falam somente os Vereadores, e tão-somente estes, com exceção das Sessões em que há a Tribuna Popular.

Pergunto como fará a Mesa para que seja respeitada a legalidade desta Reunião do dia de hoje.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. João Dib, a Mesa, com toda a tranqüilidade, e baseada em vários artigos do Regimento, entre eles o 42, o 83 e o 181, quer afirmar que esta não é uma Sessão Extraordinária, e sim uma Reunião Extraordinária da Comissão Representativa, que é regida pelo mesmo processo que estabelece as reuniões das Comissões Permanentes. No caso das reuniões das Comissões Permanentes, as pessoas convidadas, autoridades solicitadas àquela reunião, têm direito a voto. É essa a nossa orientação. Se V.Exa. não se julgar esclarecido, poderemos verificar com mais detalhes. Mas, inicialmente, a palavra será dada a todos os Vereadores presentes e, a seguir, a representantes de partidos, autoridades presentes. Estamos discutindo um assunto de relevância no processo nacional, regional e local, o que foi decidido pela Reunião Ordinária da Comissão Representativa. Essa decisão foi de uma Sessão da Comissão, mas hoje estamos realizando uma Reunião  da Comissão, que é exatamente para ficarmos cingidos às normas das Reuniões das Comissões Permanentes, que são as mesmas, pelo que diz o Regimento.

 

O SR. JOÃO DIB: Agradeço, mas tenho em mãos o Requerimento aprovado pelo Plenário da Comissão Representativa e ele se alicerça no art. 42. Teria que ter um terço dos Vereadores e tinha apenas um Vereador. Deixo bem clara a minha inconformidade. Numa Sessão da Câmara só falam os Vereadores, a não ser em Sessões Solenes, Sessões Especiais e em Tribunas Populares. Apenas desejo a legalidade em todos os atos desta Casa. Sou grato.

 

O SR. PRESIDENTE: É a opinião de V.Exa. e nós respeitamos. Queremos afirmar que a votação acontecida no dia 23 confirmou mais de um terço, aliás, dois terços dos Vereadores votando SIM, apenas um voto NÃO.

Como Mesa, sugerimos um acerto de tempo. A Comissão, normalmente, dá 10 minutos aos Srs. Vereadores, tanto a Permanente como a Representativa. Se os Srs. Vereadores concordarem, a Mesa indica o tempo de cinco minutos para os Srs. Vereadores e para os convidados que fizerem o uso da palavra. Eu pergunto se há alguma discordância dos Srs. Vereadores?

Em votação a proposta de cinco minutos. Os Srs. Vereadores que a aprovam permaneçam sentados. ( Pausa.) APROVADA com 9 votos SIM, 1  ABSTENÇÃO, do Ver. João Dib, e 1 voto CONTRA, do Ver. Reginaldo Pujol.

Com a palavra o Ver. Renato Guimarães por cinco minutos.

 

O SR. RENATO GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, companheiros, companheiras presentes neste ato, nada mais justo que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre realize um ato contra a reeleição, contra tudo o que está aí! Nós estamos vendo, hoje, nos meios de comunicação, a mídia, a poderosa mídia, fazer uma grande propaganda de que tudo está bem, de que em time que está ganhando não se mexe, e não é essa a verdade. Nós estamos vendo os companheiros do Movimento dos Sem-Terra na sua luta, dizendo que não está havendo distribuição de terra, não está havendo reforma agrária. Nós estamos vendo os companheiros cada vez mais se somarem nas favelas.

Isso tudo mostra que as condições do povo brasileiro não são as melhores, pelo contrário, são as piores. Então, diante de tudo isso, nada mais coerente do que os porto-alegrenses, do que o povo do Rio Grande do Sul dizer não à reeleição, dizer não ao Governo de Fernando Henrique e apostar que um processo de mobilização social pode desmascarar esse Governo. Só um processo de mobilização social contando com os movimentos organizados pode desmascarar esse Governo, pode mostrar para o povo brasileiro a real situação. Porque os meios de comunicação farão, cada vez mais, com que o Governo do Fernando Henrique mostre uma cara boazinha. Nós, companheiros comprometidos com a luta, temos que nos mobilizar e lutar contra o processo de reeleição e contra o Governo do Presidente Fernando Henrique. Obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo Vereador inscrito é o Ver. Reginaldo Pujol, do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ilustres convidados. A pergunta inicial, Sr. Presidente, é evidente: o que faz na tribuna o Ver. Reginaldo Pujol, único liberal da Casa, no momento em que nos reunimos para reflexionar sobre o Projeto de Emenda da Constituição que está em vias de ser  votado na Câmara dos Deputados e no Congresso Nacional e que permitirá a reeleição do Presidente da República, dos Governadores do Estado e dos Prefeitos Municipais? Sem querer entrar em discussões de aprofundamento a respeito da regimentabilidade da convocação extraordinária desta Comissão Extraordinária, que é a Comissão Representativa, devo afirmar em alto e bom tom que a minha presença aqui é uma conseqüência da minha disposição de não me omitir de nenhum dos atos deste Legislativo, mesmos daqueles cuja a regimentabilidade eu tenha dúvida quanto a sua realização. De qualquer sorte, a reflexão é um convite a que esta nos encaminha, parece-nos que já é realidade por todos aqueles que integram esta Casa. Esta Casa, inclusive pela sua maioria, já expressou a sua posição quanto à reeleição, e eu, ausente na ocasião, paguei tributos pela minha ausência porque não pude oferecer meu voto favorável à reeleição, que é a posição que eu sustento, por entendê-la legítima, como decorrência até de um aprofundamento e de uma radicalização da vida democrática do País.

Dar ao povo o direito de decidir se governos federais, estaduais e municipais devem ou não continuar é, a juízo deste Vereador, um ato de aprofundamento democrático. Negar ao povo esta perspectiva é descrer na capacidade do povo brasileiro, fato de que não comungo. Eu quero, nesta manhã, render a minha homenagem àqueles que, honestamente, se colocam contra a reeleição por razões doutrinárias. Eu sou a favor da reeleição, também por razões doutrinárias. Acho que decidir sobre o ângulo de que a, b, c ou d, devam ou não ter a oportunidade de continuar dirigindo a Nação, os Estados ou Municípios, é uma posição antidemocrática. Eu, pessoalmente, não gostaria de que o Dr. Raul Pont estivesse aqui sentado à mesa como prefeito, não gostaria. Fui às urnas para tentar impedi-lo; dobrei-me à decisão da soberania popular que nas urnas entendeu, majoritariamente, que o Dr. Raul Pont devesse ser o prefeito de Porto Alegre, e como tal ele precisa ser reconhecido e proclamado. Este direito de a comunidade decidir sobre seus destinos, se continua ou não continua um tipo de administração, se procede ou não procede um tipo de projeto, é que está em jogo nesta hora. Como eu acho que esse direito tem que ser estendido a toda a população brasileira, que terá, em determinada circunstância, a sua possibilidade legal e constitucional de decidir pela permanência, ou não, de determinadas pessoas nas chefias dos governos da União, Estados e Municípios e, como eu entendo que isso é democrático, sem querer discutir outros aspectos das questões meramente eleitorais, sem considerar as circunstâncias de que o primeiro discurso que ouvi nesta manhã, já demonstra que, de certa forma, esta reunião não é para reflexão e sim para a afirmação de pontos de vista - aqui se fez um discurso de anti-governo e não de análise e reflexão sobre o tema em discussão - sem considerar tudo isso, Sr. Presidente, eu compareço nesta Casa para uma Sessão que, parece-me, não foi convocada de acordo com as normas regimentais. Vim aqui para dizer que não fujo, que não me omito. Eu, que sou a favor da reeleição, vim aqui para uma Reunião, convocada, clara e nitidamente, com o objetivo de se fazer uma manifestação anti-reeleição. Que se faça, mas não com o meu aplauso e nem com a minha omissão. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de chamar o próximo orador, a Presidência reitera ao Ver. Reginaldo Pujol que esta é uma Reunião para tratar o assunto reeleição. V.Exa., de maneira legítima e brilhante, expressou sua oposição a favor da reeleição. As inscrições estão abertas nesse sentido. Esta Casa, plural, se manifesta da tribuna.

 

A Verª Maria do Rosário está com a palavra.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Clovis Ilgenfritz; Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. Raul Pont; demais integrantes da Mesa, representantes de partidos políticos, que nos honram com sua presença; Sras. Vereadoras, Srs. Vereadores, Senhores e Senhoras do movimento popular, do movimento sindical, do movimento social que, neste momento, participam, na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, do debate sobre a questão da reeleição.

Todos nós, representando a população da nossa Cidade, do nosso Estado, do nosso País, sabemos do sentimento da nossa gente, do nosso povo. Enquanto os trabalhadores rurais amargam a violência no campo, enquanto não conseguimos ver respostas concretas para a situação de desesperança imposta pelo desemprego na casa de cada trabalhador - na nossa Região Metropolitana já se somam 200 mil desempregados -, enquanto nós observamos crianças e velhos ainda sem perspectivas por conta da falta de recursos na área social, na área da educação, enquanto observamos o projeto neoliberal se afirmar como alternativa, a verdade é que duas questões são apresentadas por esse projeto para a Nação brasileira: de um lado, as privatizações, como estão sendo apresentadas, e,  de um modo particular, quero citar a mais nova investida do Governo contra a Empresa Vale do Rio Doce no primeiro trimestre deste ano. A outra solução mágica apresentada por este projeto é a perspectiva da reeleição. É isso que estes governos têm a apresentar para uma Nação rica em perspectiva, mas que passa por tantas dificuldades no seu cotidiano. E basta observarmos a situação de saúde, educação e direitos sociais negados à população trabalhadora. É somente isto que têm a apresentar? É claro que é só isso. É só isso, e é por conta desta absoluta falta de possibilidade de apresentar outras alternativas de solução que o Governo Federal hoje orquestra, de dentro do Palácio do Planalto, verdadeiras artimanhas, a troca de favores, a barganha da mais pequena política deste País, reeditando péssimos momentos da história brasileira na relação entre Executivo e Congresso Nacional.

Queremos ter um Congresso soberano, queremos um País soberano. Não queremos ter parlamentares discutindo as questões orçamentárias, discutindo utilizações de recursos, como tivemos no dia de hoje, de acordo com interesses menores, quando a Constituição está sendo aviltada.

E, neste dia, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre pauta a questão junto ao movimento popular, porque a Cidade de Porto Alegre tem uma trajetória democrática a resguardar e uma opinião política a formular e a apresentar para a cidadania brasileira.

Em nenhum momento, devemos, como representantes, como cidadãos da nossa Cidade, do nosso País, nos omitir quando o Governo apresenta tal investida contra a Constituição, contra o estado de direito e contra normas básicas da democracia, como apresenta neste dia 28 de janeiro no Congresso Nacional.

Quero, para finalizar, apresentar à Casa e ao movimento popular meus cumprimentos e dizer que, se realizamos esta manifestação, mais do que dentro destas paredes, temos que tomar as ruas. E assim como o Movimento dos Sem-Terra, e assim como os trabalhadores têm apresentado soluções a partir de sua mobilização para as questões do cotidiano da Cidade, devemos chamar o povo brasileiro a uma investida pública no sentido de apresentarmos e formularmos novo projeto de Nação soberana e democrática que, de fato, apresente como questões da Cidade, sim, o nosso cotidiano que é tratado nesta Câmara, mas também as questões que dizem respeito à Nação como um todo e das quais Porto Alegre, a nossa Cidade e o nosso Estado nunca se omitiram. E hoje, portanto, a nossa Cidade diz presente e diz que somos críticos a esse processo, que queremos uma relação respeitosa, queremos o resguardo da Constituição, mas queremos, acima de tudo, os direitos sociais e políticos garantidos, queremos as regras do jogo colocadas claramente na mesa, e queremos uma relação ética, o que o Governo Fernando Henrique, nos dias de hoje, não apresenta à Nação brasileira.

Agradeço de coração, Sr. Presidente, e que esta Cidade possa ser uma cidade cada vez mais posicionada claramente e que possamos puxar o movimento contrário à investida neoliberal e a favor de um projeto popular, democrático, soberano e feliz para a nossa gente, o que é a nossa obrigação. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Juarez Pinheiro está com a palavra.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente, Exmo. Sr. Prefeito Raul Pont, Srs. Presidente de Partidos, companheiros do movimento sindical e popular. Queremos, preliminarmente, dar nosso entendimento sobre a absoluta regimentalidade e legalidade desta Reunião Extraordinária da Comissão Representativa da Câmara Municipal de Porto Alegre. Dizemos isso baseados no Regimento, art. 42 e art. 83. Mas há questões mais importantes para discutirmos hoje. Na verdade, a Nação vive dias tristes, de luto, à mercê do "Imperador Fernando II", que rasgou o seu discurso de campanha, que manda rasgar seus livros, que rasga a legalidade e rasga a Constituição. Nós viemos a esta tribuna para dizer que a Reforma Constitucional e que a Emenda Constitucional nº 54/95 - que hoje será votada, possivelmente, no Congresso Nacional -, são absolutamente inconstitucionais e ilegais e, acima de tudo, não são éticas. Todos nós, ou ao menos a maioria, lutamos, nos idos de 85 e 88, por uma Assembléia Nacional Constituinte livre, soberana e exclusiva. Se não foi tão livre quanto desejávamos, e se não foi exclusiva, eis  que o Congresso, depois das atividades de elaboração da Carta, continuou e não foi dissolvido, pelo menos algumas questões importantes para a maioria da população brasileira foram colocadas na nova Constituição, a qual diz, nas Disposições Transitórias, por quem tinha o poder ordinário, o povo, e delegou aos representantes na Assembléia Nacional Constituinte de 88 que em 5 anos poderia ser feita uma revisão constitucional. O prazo da revisão constitucional passou em "in albis", o Governo não teve condições político-sociais de fazer a reforma constitucional nos moldes que queria, e o prazo para a reforma constitucional passou, esgotando-se em 1993. Todos nós, aqui, parlamentares, Vereadores, Deputados sabemos que uma emenda não pode mudar um capítulo, seja de um regimento interno, seja de uma constituição, de uma lei. Emenda serve para mudar questões pontuais. Portanto, toda essa reforma constitucional ilegítima contra os interesses da maioria do povo brasileiro não é constitucional, e um dia os brasileiros vão cobrar de quem está fazendo esse atropelo na Constituição, de quem gera essa instabilidade jurídica, econômica, social e política para a Nação.

Também não são éticas tanto a reforma constitucional quanto a emenda proposta, porque estamos, na verdade, alterando as regras do jogo em meio ao jogo; não é ética a Emenda Constitucional, porque o próprio autor das investidas contra a constitucionalidade dizia, em seu documento de campanha, e lembro de uma oportunidade em solenidade no Memorial JK, que um mandato já seria suficiente para que fossem encaminhadas as reformas de que a população necessitava e que, segundo a sua ótica, o País precisava. Então, o Imperador Fernando II rasga tudo, seu discurso, investe contra a legalidade, contra a Constituição, e nós, vendo tudo isso ser cometido, lembramos que Hitler, como FHC, subiu ao poder com base na Constituição, lembramos que Hitler, aos poucos, foi comendo a legalidade pelas beiradas e sabemos muito bem o que gerou o 3º Reich.

Parabéns, Sr. Presidente, parabéns, Srs. Vereadores, pela iniciativa, a Câmara Municipal de Porto Alegre, os movimentos sindicais aqui presentes, mesmo tendo na lembrança dias tristes para a nacionalidade, como foi a votação da emenda pelas "Diretas Já", em 25 de abril de 1984, como 31 de março de 1964, e até hoje, podemos dizer que aqui, em Porto Alegre, nós não vamos dobrar a coluna vertebral. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a Presença do Sr. André Hohlsback, representante do Movimento dos Sem-Terra; representante da Federação dos Metalúrgicos, Presidente Sérgio Matte; representante do Movimento comunitário dos Trabalhadores Gaúchos; Sr. Eliezer Pacheco, representante do CPERS - Sindicato; representante da Federação do Sindicato dos Comerciários, Sr. Guiomar Vidor;  Presidente do Diretório Municipal do Partido  dos Trabalhadores, Sr. Luiz Pilla Vares; Presidente do Sindicato dos Petroleiros, o Sr. Cezar Przygodzinski; Presidente do Sindicato da Câmara Municipal de Porto Alegre, o Sindicâmara, Sra. Maria Durganti; a Suplente de Vereador Maristela Heck; o Deputado Estadual Elvino Bohn Gass; a Deputada Estadual Maria Augusta Feldmann.

 

Com a palavra o Ver. José Valdir.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, convidados presentes, o meu discurso vai ser diferente, visto que é uma reunião onde temos também o movimento popular. O Governo de Fernando Henrique, aliado a uma poderosa campanha de mídia, tem imposto ao povo brasileiro a visão da necessidade de continuidade de um Governo que é da negociata, da fome, do sucateamento das políticas sociais, especialmente da saúde, da educação, da assistência social, que é um Governo entreguista do patrimônio público, e que  chamo de "Governo da latinha", porque é o título de um poeminha de minha autoria que vou ler:

 

"LATINHA

ou "Poeminha Neoliberal"

 

Latinha por todos os lados.

Latinha ali, latinha aqui, latinha acolá, latinha lá.

Lá tinha.

Lá tinha um sítio,

lá tinha uma loja,

lá tinha uma fábrica,

lá tinha um empregado.

Lá tinha?

Ou já nem tinha?

Lá tem.

Só lá? Não.

Ali, aqui, acolá, lá.

O que tem?

Um deserto, uma fachada, uma negociata,

uma sucata e um  joão-ninguém desempregado,

com a família, sobre os escombros, juntando lata".

 

Será que é esse o Governo que quer impor a continuidade ao povo brasileiro? Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Dib está com a palavra.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Exmo. Sr. Prefeito, Srs. Deputados Estaduais e dirigentes de classe. Como dizia o Ver. José Valdir "lá tinha" uma Constituição Federal, "lá tinha" uma Constituição Estadual, "lá tinha" uma Lei Orgânica do Município. Mas só que essas três grandes leis que regem a vida de todos nós não são cumpridas e nós vamos falar na reeleição. Vamos falar na reeleição quando o orçamento da República ainda não foi votado para o ano de 97 e deve criar tremendas dificuldades para todos os brasileiros, para os prefeitos, deve criar dificuldades para cada um de nós, mas "lá tinha" e não era cumprida. Nós vamos falar das coisas que realmente interessam a todos os brasileiros, até porque 80% se manifesta favorável ao Presidente da República, que não foi do meu Partido. Mas "lá tinha", lá, nos artigos da Câmara, também tinha uma decisão judicial contra os Vereadores João Dib, Reginaldo Pujol e João Mano José, provocada pelo Presidente da Câmara, eis que os três vereadores eram diretores de autarquia. A decisão final diz: "Está em jogo a profissionalidade ou não do ato do Presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre e este ato é perfeitamente constitucional, dirigidos a vereadores que exerciam o cargo em autarquias, demissíveis, portanto, "ad nutum" e não-equiparados a secretários municipais ou a secretários estaduais e, menos ainda, a ministros. ". E a Constituição que "lá tinha" é a mesma que hoje tem e continua não sendo respeitada. Não há preocupação da Câmara Municipal de resolver os problemas do próprio município. O Ver. João Verle é o Diretor de uma autarquia e segundo a própria Câmara, que entrou em juízo contra o Vereador João Dib, Reginaldo Pujol e Hermano Reck, ele não tinha o direito de ser Diretor da autarquia, eis que a Constituição Federal mantém exatamente o mesmo texto, as mesmas palavras. O Ver. Henrique Fontana não é Secretário Municipal da Saúde e, portanto, contraria o artigo 68 da Lei Orgânica do Município. Ele responde pelo expediente da Secretaria Municipal de Saúde, será o Secretário de Saúde a partir do dia 1º de fevereiro de 1997, portanto, absolutamente verdade. É por isso que este País não vai adiante, porque "lá tinha" a Constituição, "lá tinha" a Lei Orgânica e "lá tinha" a Constituição Estadual. Aí, vem o Ver. Juarez Pinheiro e diz que o art. 42 do Regimento dita as normas dessa Reunião. Não é verdade! O artigo 42 fala das Comissões Permanentes e diz que uma Sessão como esta tem que ser convocada por um terço dos Vereadores daquela Comissão, e isso não aconteceu. E mais, eu não sei se essa Reunião não está seguindo exatamente o ritual de todas as Reuniões Ordinárias da Comissão Representativa. Se não fosse uma Reunião Ordinária em caráter extraordinário, da Comissão Representativa, a chamada não se faria na seqüência que está sendo feita hoje. Nada mudou! É por isso que este País não vai adiante! É por isto que muita gente reclama: é porque as leis são feitas para serem desrespeitadas. É por isso que há problemas com todos. É por isso que os salários da Prefeitura são pagos da forma que são pagos. É por isso que a lei retroage na Prefeitura - para prejudicar os servidores municipais - e ninguém faz nada! É por isso que o salário mínimo, na Constituição, diz que sustenta uma família de quatro pessoas com casa, comida, roupa lavada e férias na praia. Nós sabemos que não sustenta ninguém. É por isso, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sr. Prefeito, que este País não vai andar enquanto a lei não for lei, enquanto a lei não for apenas um "lá tinha"! Muito obrigado.

 

(Não revisto  pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Fernando Záchia está com a palavra. Fala pelo seu Partido, o PMDB.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Sr. Presidente; Sr. Prefeito Municipal; autoridades presentes; Srs. Vereadores. Esta Reunião Extraordinária, entendo correta. Esta é uma Casa política e o assunto reeleição é um tema nacional discutido por todos os segmentos e esta Casa não podia se omitir. Mas, aqui, a discussão, independente de posicionamento de outros Vereadores, não é que seja um ato contrário à reeleição; é, como dizia o Presidente Clovis, para discutirmos o tema reeleição. Temos posições contrárias, temos posições favoráveis, nas quais eu me incluo. Não estamos aqui para discutir, para analisar o Governo Federal, do qual o meu Partido faz parte. Eu entendo que esse governo - pessoalmente, a mim não agrada - é um governo que tem dificuldades em resolver as questões sociais do País. Mas nós não estamos analisando o Governo Federal, nós não estamos analisando o Governo Estadual e, muito menos, o Governo Municipal. Nós estamos discutindo a possibilidade da reeleição em nível federal, estadual e municipal. E quem sabe nós estaremos, dentro de 4 anos - o povo de Porto Alegre - entendendo que o Sr. Raul Pont deva ser reconduzido ao cargo de Prefeito Municipal, porque terá ele executado, durante esses 4 anos, uma administração que faça com que ele tenha a credibilidade do povo. Nós não podemos pensar somente nessa reeleição para reconduzir Fernando Henrique para o Governo Federal; nós devemos imaginar que Miguel Arraes, de Pernambuco, possa ser reconduzido ao Governo do Estado; que o Lerner, no Paraná, possa também ser reconduzido ao Governo do Paraná; o Cristóvam Buarque, no Distrito Federal; o Vitor Buaes, no Espírito Santo; o Britto, no Rio Grande do Sul, e tantos outros.

Meus amigos, eu acho que a reeleição é um direito do cidadão. Não quer dizer que o povo vá votar no Fernando Henrique para Presidente da República, vá votar no Raul Pont para Prefeito e vá votar no Britto para Governador do Estado.

Nós não podemos virar as costas para os interesses do povo, mas o povo nos mostra - e as pesquisas estão aí - que ele é favorável à reeleição; não quer dizer com isso, meus amigos, que tenha, necessariamente, que ser o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Por isso, mesmo discordando, mesmo tendo ressalvas a esse Governo Federal, mas a questão da reeleição é um direito de todo cidadão, em nível federal, estadual e municipal. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Eliseu Sabino está com a palavra. ( Pausa. ) Desiste. O próximo seria o Presidente, que também desiste. Com a palavra o Ver. Carlos Garcia, pela Bancada do PSB.

 

O SR. CARLOS GARCIA: Sr. Presidente, Sr. Prefeito, Srs. Presidentes de Partidos ou representantes. Movimentos populares, representantes do Movimento Sindical. Meus colegas Vereadores. O PSB tem bem clara a sua proposta, que foi tirada em nível nacional, embora um outro parlamentar seja favorável à reeleição, mas entendemos, e não podemos ceder aos casuísmos deste Governo. O preço que as cidades poderão pagar será muito alto, tendo em vista que para alcançar seus objetivos esse Governo está lançando as mais diferentes ações. Barganhas são feitas de toda ordem. Não tenho dúvida de que as pessoas que estão pretendendo ser presidente da Câmara e do Senado terão seus objetivos alcançados. Mas temos que lutar contra esse regime, que se diz liberal mas que faz com que o aumento do desemprego seja cada vez maior, que a saúde, que é um direito de todos, que a segurança, que a moradia e a reforma agrária também, não estejam bem. Não podemos ceder à vaidade pessoal, porque o que se está discutindo não é a reeleição geral, é a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, e isso é importante. Nós não podemos servir para casuísmos, enfatizamos novamente, em vista de interesses pessoais e não coletivos. Reeleição neste momento não, pois é uma mudança da regra atual que tem que ser amplamente discutida, pensada e que, talvez, necessitaria de um referendo popular, de um plebiscito. Não se muda a regra do jogo na véspera do mesmo, muito menos no meio, além do que renomados juristas têm alertado quanto à inconstitucionalidade. Esta Emenda que está sendo proposta - como disse o nobre Ver. Juarez Pinheiro, meu colega - vai estar rasgando a nossa Constituição que há bem pouco tempo foi elaborada.

O nosso Partido, o PSB, é radicalmente contra a reeleição por todas as conseqüências que poderão advir com a sua aprovação, tais como: a continuidade da entrega das estatais estratégicas ao capital estrangeiro, o crescente endividamento da Nação, o desemprego alarmante que está cada vez mais assoberbando não só os grandes municípios mas também chegando às pequenas localidades, deixando ao acaso, à própria sorte a indústria nacional. Os políticos que hoje apóiam esta Emenda, em quase sua totalidade, têm sua origem em partidos de extrema direita e podemos, às vezes, entender os seus porquês. Já foi levantado - aqui ainda não se fez - o custo dessa convocação extraordinária em Brasília. Mais de cem milhões de reais têm sido gastos. E o que até agora, realmente, saiu? O que foi decidido? Nada, absolutamente nada! Cem milhões de reais achamos que é um valor muito alto para um povo tão sofrido, que não tem o que comer, que não tem saúde, que não tem moradia. Conclamamos os parlamentares, a comunidade em geral, que querem o bem do País, que querem um futuro digno para os seus filhos  e que querem uma condição mais racional para os problemas da saúde, da moradia, da segurança e do desemprego, a se engajarem neste movimento político contrário à reeleição. Por favor, não aceitem a reeleição, não votem na reeleição! O PSB diz não à reeleição! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar as presenças do Sr. Chaves Sidarta Machado, Presidente do Grêmio Estudantil  do Colégio Protásio Alves; Enio Santos, Diretor da Região Sul da Federação dos Metalúrgicos; Alcindo Kempler, Tesoureiro da Federação dos Metalúrgicos; Ignácio Fritzen, da Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores; Deputada Estadual e Vice-Líder do PT na Assembléia Legislativa,  Sra. Cecília Hipólito; Sra. Silvana Trein, da CUT Metropolitana; Sr. Paulo de Leandro, do Sindijust; Sra. Maristela Heck, do Sindisepe, e do Sr. Luiz Carlos Martins, do Sindiserv.

Registramos, também, as presenças dos Vers. Luiz Braz e Antônio Losada.

A Verª. Anamaria Negroni está com a palavra. Ausente. O Ver. Adeli Sell está com a palavra.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Exmo. Sr. Prefeito Municipal Raul Pont, Deputados Estaduais, líderes sindicais e demais populares que nos prestigiam com a sua presença nesta Casa. ( Lê. )

 

"Registro  a importância da decisão desta Casa em estabelecer esta manhã para um debate sobre a Reeleição. Um tema que vai incidir diretamente sobre nossas vidas. Amanhã, em sessão ordinária, vou tratar de um tema de estado, que é a destruição da CEEE. Mas quando querem destruir as leis, a democracia, não há outro tema maior, porque a democracia é um valor universal. A luta pela democracia, pelas liberdades, foi essencial para derrotar o regime de exceção dos militares, para derrubar uma ditadura. E foi a luta pela democracia que derrotou a burocracia soviética, acabando com os privilégios de poucos.

No Brasil, depois das diretas, do impeachment, a democracia está ameaçada. Como disse o jornalista Élio Gaspari, "a retórica da reeleição se tornou terrorista, imperial e golpista".

É isto mesmo, mudar as regras do jogo no meio do mandato do presidente é um golpe contra a democracia. Hoje, reconhecemos todos que a estabilidade da moeda é um fator positivo às nossas vidas. A inflação penaliza os já penalizados. Quem mais sofria era o trabalhador sem carteira assinada, sem conta bancária. Era o povão que mais amargava a ciranda financeira que enchia os cofres dos banqueiros. Sabemos que aqueles que nada tinham têm pouco. Mas não esquecemos que o Projeto do Real está destruindo setores inteiros de nossa economia, como é o caso de nossa agricultura.

Mas o que tem a ver a política econômica do governo com "regras"? A propaganda que os "institutos" que sustentam FHC colocaram no ar é uma afronta. Chegava a insinuar que não se teria o direito de votar no presidente... Sua redação ou fala era dúbia de propósito, por isso terrorista. Colocava medo na cabeça dos menos avisados. E tanta propaganda com que dinheiro era paga? Talvez o Vereador Antonio Hohlfeldt pudesse explicar estes malabarismos do seu Governo, já que se preocupa com alguns tostões que gastamos aqui com a divulgação de benefícios ao cidadão. Algo completamente diferente do que o terrorismo do Governo Federal. Isto basta, porque todos viram e todos vão concordar que além de terrorista, as falas da propaganda eram imperiais e golpistas.

Na questão da reeleição, não se trata apenas de discutir as regras do jogo. Eu quero discutir a agenda política e social da nação, que clama a inclusão do tema da saúde pública, do desemprego, do abandono da agricultura, da infância vilipendiada, com violência e trabalho infantil, como disse na semana passada aqui o Vereador Sebenello. Sim, esta deve ser a nossa agenda. Mas chamo a atenção da bancada do PSDB aqui na Câmara que a agenda de seu partido é outra: é única e exclusivamente a agenda do interesse pessoal, soberano, imperial, de FHC.

Eu cobro do Governo Federal verbas para a saúde em Porto Alegre. Cobro de FHC verbas e apoio à UFRGS. Reivindico subsídios para a nossa agricultura familiar. Repudio as benesses dadas aos banqueiros, com o seu PROER. Dinheiro que falta há dois anos para repor as perdas salariais dos funcionários públicos federais.

Eu denuncio FHC de sarneyzação do governo. Eu repudio a submissão de FHC aos desmandos de Toninho Malvadeza.

Eu reivindico democracia, respeito, ética na política.

Repudio o balcão de negociação instalado em Brasília, cujo condutor maior é o truculento e mal educado Serjão. Eu clamo por luz, por modernidade, por respeito, por ética. Eu chamo a todos para uma luta pela democracia, pela cidadania. Muito obrigado. "

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa registra a presença do Secretário Geral da Câmara Municipal de Fortaleza, Ver. Idalmir Feitosa, do PSDB, acompanhado de sua esposa. V.Exa. está convidado a participar da Mesa.

Com a palavra o Ver. Luiz Braz pelo Partido Trabalhista Brasileiro.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Sr. Prefeito Municipal, autoridade já nominadas, Srs. Vereadores, Senhoras, Senhores. Eu fiz questão de vir hoje nesta Reunião a fim de denunciar a farsa que se estabelece, hoje, aqui, na Câmara Municipal. E, me desculpe, Sr. Presidente, tenho um respeito muito grande por V.Exa., mas V.Exa. iniciou esta Reunião hoje dizendo que este era um ato contra a reeleição. E estas palavras  de V.Exa. significaram já, desde o início, um desrespeito com todas as outras Bancadas que pensam de maneira diferente.

Mas um dos argumentos contrários à reeleição é o argumento do uso da máquina pública, e eu quero contar, aqui, uma pequena história para todos, porque de repente os Senhores não conhecem.

Quando nós estávamos no final do ano de 1995, sobrava dinheiro na rubrica publicidade. O que se fez com aquela rubrica, publicidade? Empenharam-se aqueles recursos - porque se deixasse passar o ano de 95, eles desapareceriam - para eles fossem utilizados no ano seguinte, o ano da eleição. E os recursos de 1995 foram utilizados até março de 1996. Quando chegou em março de 1996, o Governo Municipal começou a utilizar os recursos próprios do ano de 1996, que não eram poucos, os recursos que o Ver. Adeli Sell disse que eram tostões, mas que chegavam a três milhões e meio ou ultrapassavam este valor, significando que só no ano de 1996 foram gastos cinco milhões de reais para se falar em Administração Municipal e Orçamento Participativo. E dizem: "Mas o Orçamento Participativo é um corpo presente na Administração, não pertence única e exclusivamente a um partido". E desminto a afirmação, porque os Vereadores que se reelegeram para a Legislatura de 1997, todos aqueles que pertenciam ao Orçamento Participativo, elegeram-se exatamente na Bancada do PT. Nenhum outro partido político teve, na verdade, algum Vereador eleito que viesse do tal Orçamento Participativo, o que significa que o Orçamento Participativo pertence ao partido político chamado PT. A maior parte dos recursos que foram gastos em 1996 foram gastos exatamente para fazer com que o Orçamento Participativo pudesse ficar realmente numa situação privilegiada. Tenho aqui um texto do Jornal “Zero Hora”, página 10, que diz: "Geni Machado, conselheira do Orçamento Participativo:  Eu ando muito de ônibus pela Cidade e noto as mudanças. O Mercado está ficando bonito, - e está mesmo, parabéns! - "Temos escolas novas, prontas; casas para quem morava na favela” - os favelados estão morando em casas novas e nós não sabíamos -; tem médicos visitando as pessoas”. E as pessoas desta Cidade não precisam mais se preocupar com médicos, porque a partir do IPTU e a partir da Administração petista já há médicos visitando a população desta Cidade. Vejam que essa propaganda é criminosa, ela engana a população da nossa Cidade, e, enganando a população da nossa Cidade, ela está prestando um desserviço para a nossa população. Isso é o uso da máquina pública, e o uso da máquina pública foi um dos argumentos utilizados contra a reeleição. O Vice-Prefeito pôde utilizar toda a máquina da Prefeitura e se eleger Prefeito. Por duas vezes! Em duas oportunidades! Nós temos que colocar todos esses argumentos para serem debatidos, como disse a Verª. Maria do Rosário, não apenas aqui, entre estas quatro paredes, mas aí fora, para ver se a população aprovaria o que está acontecendo nesta Administração. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Exmo. Ver. Luiz Braz, para que não passe em julgado, esta Presidência, em respeito a V.Exa., repete o que disse no início: nós estamos abrindo os trabalhos da 1ª Reunião Extraordinária, da 1ª Comissão Representativa para debater acerca do tema "reeleição". Eu frisei que era para o debate sobre a reeleição, nem contra nem a favor. Quem quiser fala contra. Isso é que foi colocado, e V.Exa. pode consultar as notas taquigráficas.

 

O SR. LUIZ BRAZ (Questão de Ordem ): Peço desculpas a V.Exa. a referência que foi feita pelo Ver. Garcia, que estava secretariando a Mesa. O Vereador foi o primeiro a fazer essa referência.

 

O SR. PRESIDENTE: Vereador que participa da tribuna fala o que achar conveniente. É um direito consagrado na Lei Orgânica e no Regimento. Esse esclarecimento é importante, porque queremos manter o nível democrático que esta Reunião deve ter, e V.Exa. está cooperando para isso de uma forma muito boa. Gostaria de chamar à Mesa o Presidente do PCB, Daniel Sebastiani.

O Ver. Cyro Martini está com a palavra.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente, Exmo. Sr. Prefeito, Srs. Deputados, Srs. representantes sindicais e de partidos políticos, Srs. Vereadores, senhoras e senhores. Essa questão pertinente à reeleição pode ser evocada por diversas vezes, entretanto, há uma que a mim, particularmente, chamou a atenção, porque fere profundamente a sensibilidade brasileira a par de constituir um exemplo dos mais lastimáveis e que poderão, exemplos dessa ordem, gerar, na alma brasileira, o pessimismo e a negatividade que não ajudará, de forma nenhuma, a construir aquilo que, desde os brasileiros mais modestos, procuram construir, que é a democracia, e que corresponda aos anseios da nossa gente e de nós mesmos: o deboche que se instalou no plano nacional, essa palhaçada, como diria qualquer um, em qualquer esquina das nossas vilas populares, uma palhaçada onde a barganha e a pressão se instalaram. Ora, para qualquer um é óbvio que essa barganha, esse "é dando que se recebe", essa situação de deboche, de descalabro, achincalhamento, não pode caracterizar algo positivo. O brasileiro, seja ele de que recanto do País for, evidentemente está assistindo a esse circo instalado pelo Sr. Fernando Henrique Cardoso e seus asseclas, pelos seus acólitos. Isso não podemos admitir, temos que nos indignar contra isto. Esta palhaçada tem que ter fim. Não podemos mais, no estágio em que nos encontramos, deixar o povo submeter-se a esta palhaçada. O País está cheio de problemas sérios, graves, de desemprego, quebra de empresas, crianças abandonadas a sua própria sorte, problemas de toda a sorte. E o que faz o Governo Federal? Arma um circo para manter a filosofia e suas conseqüências neoliberais. Isso não podemos admitir. De outra parte quero chamar atenção, porque houve quem nesta Casa disse, e alguns, de certo modo, repetiram desta tribuna, que a reeleição não é um problema que diga respeito às questões de Porto Alegre. Isto é um equívoco lamentável, de uma parte, e, por outra parte, repete o interesse que procura manter alienado o povo brasileiro. Alienação, obscurecimento, desligamento daqueles problemas sérios que determinaram a má-sorte daquele operário, daquele homem humilde, daquela família modesta da vila, está nos grandes problemas nacionais. O problema de desemprego não está na boa ou má sorte ali nas vilas. Está lá em cima. A falta de comida, agasalho, teto, abrigo, está lá em cima. Qualquer problema do Governo tem a ver com os nossos problemas. Por isso, manter o povo alienado é um interesse dos partidos que primam pelo conservadorismo. Por isso, temos que reclamar, denunciar desta tribuna e de qualquer outra tribuna que tivermos à disposição.

Quando falamos, de outra parte, contra o Orçamento Participativo, estamos tentando, também, justamente atingir aquilo que é mais sagrado para o povo porto-alegrense, e ao processo que empresta a ele condições de sair da alienação e procurar uma melhor sorte. Contra a reeleição e contra toda essa palhaçada nós somos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa concede a palavra ao Ver. Vice-Líder do PT, Juarez Pinheiro, para uma comunicação de Liderança.

 

O SR. JUAREZ PINHEIRO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, queremos refutar, na íntegra, as palavras levianas e não verdadeiras do Ver. Luiz Braz; nós não vamos cair  na sua armadilha, na sua manobra diversionista, querendo discutir o tema desta reunião na Comissão Representativa, que é a questão da Emenda da reeleição do "Imperador Fernando II". Vamos responder ao Vereador Luiz Braz, às suas palavras levianas, sobre tudo o que ele aqui argumentou, na próxima reunião da Comissão Representativa. Muito obrigado.

 

(Não  revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos ainda mensagens recebidas do Deputado Valdir Reschio, Vice-Líder da Bancada do PDT, se desculpando pela não-presença; do Sr. João Carlos Vasconcelos, Diretor-Presidente da EPATUR; do Deputado Federal Miguel Rosseto, cuja íntegra do documento fica à disposição de todos. Passamos de imediato, a palavra ao Ver. Luiz Braz, em tempo de Liderança,  por 5 minutos.

O Ver. Luiz Braz está com a palavra em tempo de Liderança.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não vou discutir com o Ver. Juarez Pinheiro por ele ter-me atacado dessa forma, chamando-me de leviano. Leviano é aquele que faz afirmações que não pode provar. O Ver. Juarez Pinheiro foi - acredito - leviano, quando veio aqui e me chamou de leviano, porque ele não sabe sobre os meus conhecimentos. E digo aos Senhores que tenho provas que dizem quanto a Administração gastou em 1996. Eu era Presidente da Comissão de Finanças e Orçamentos desta Casa e pude fiscalizar as contas do PT, muito embora tentassem disfarçar esses números - e o Ver. João Dib é testemunha disso, porque pedimos que nos fossem discriminadas as contas de publicidade, mas as mandaram mascaradas. Então, tudo aquilo que estou afirmando aqui desta tribuna, Ver. Juarez, posso confirmar. Foram feitos empenhos do resto da publicidade de 95... ( inaudível ). E se V.Exa. for, por exemplo, às emissoras de rádio e televisão - principalmente à RBS, que era tão atacada antes pela Administração Petista - verá que o PT joga uma tonelada de dinheiro. Tenho dúvidas se o primeiro cliente da RBS em 96 foi o Governo do Estado ou a Administração Popular.

Não quero atacar a Administração de V.Exa. Estamos hoje, aqui, para discutir sobre reeleição. Mas eu poderia falar, por exemplo, sobre a política que era utilizada pelo Partido de V.Exa., contrária às empresas de transporte coletivo antes de assumirem a Administração e sobre a mudança que houve depois que assumiram a Administração. Eu poderia dizer a V.Exa. que o transporte coletivo é extremamente mais caro do que era antigamente, mas não vou falar sobre isso. O Ver. João Dib levantou um tema muito importante. Eu não ia fazer nenhuma referência a esse tema, que é a impossibilidade, de acordo com as decisões jurídicas que temos até o presente instante, de o Ver. João Verle estar assumindo uma autarquia, ou o Ver. Henrique Fontana estar substituindo um secretário. Jamais vou ser leviano ao fazer afirmações. Faço com conhecimento, podendo comprovar minhas palavras. O que estou afirmando e já afirmei da tribuna foram todos fatos comprovados, simplesmente porque esta Câmara fiscaliza as ações do Executivo. O Executivo ainda não conseguiu impor a sua ditadura aqui nesta cidade, felizmente, porque utilizando todo aquele dinheiro usado para a imprensa, em 1996, ainda conseguiu fazer uma bancada de 14 Vereadores e conseguiu eleger-se para Prefeito no primeiro turno. Cinco milhões de reais! Quero que vocês analisem isso. Cinco milhões de reais jogados nos órgãos de imprensa em 1996! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Moacir Leiria, representante do Movimento Unitário dos Trabalhadores Gaúchos, está com a palavra.

 

O SR. MOACIR LEIRIA: Sr. Presidente da Câmara, Sr. Prefeito Municipal, demais integrantes da Mesa, Srs. Vereadores e dirigentes sindicais.

Hoje, estamos aqui discutindo, novamente, o processo da reeleição, quando em Brasília se discute a condição de que hoje esse processo seja votado. Nós, do Movimento Sindical, somos contra a reeleição, porque temos noção, temos consciência de que aquilo que aconteceu na Argentina é o que vai acontecer no nosso País. A Argentina já deu exemplo aos brasileiros. A eleição de Menen e a sua  reeleição trouxe uma série de dificuldades ao povo argentino. Hoje, o que está fazendo o Governo brasileiro de Fernando Henrique Cardoso? Entregando as multinacionais aos capitalistas e todas as indústrias, principalmente aquelas entidades, aquelas potências que o povo brasileiro ajudou a construir e são privatizadas, ou em via de privatização. A Vale do Rio Doce, a PETROBRÁS e outras estão ameaçadas. Esse processo não beneficia a população, porque o dinheiro arrecadado com a venda dessas empresas é repassado ao Governo e depois desaparece. A mesma coisa acontece aqui no Estado com o Governo Antônio Britto. Por exemplo, a venda da CRT, o desmembramento da CEEE, o enxugamento da máquina, para depois, entregar ao capital internacional.

Por isso, o Movimento Sindical, que defende os trabalhadores, é contra as privatizações e é contra também a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Se hoje a nossa Constituição diz que não pode haver reeleição, isso é a mudança nas regras do jogo. O próprio Fernando Henrique dizia, antes de ser Presidente, que era contra a reeleição e, agora, quando assume o poder, quer eternizar-se no poder. E é por isso que nós, do Movimento Sindical, somos contra a reeleição, e também não só a reeleição do jeito que está sendo proposta, de que não haveria possibilidade de desincompatibilidade, podendo o presidente, o governador, ou o prefeito ficar no mandato, e não ter que se licenciar para concorrer novamente.

Por isso somos contra a reeleição e vamos fazer a discussão com a população e mostrar claramente o que pode acontecer. Queremos que nosso povo trabalhador tenha dignidade e tenha condições de ter uma saúde, uma educação que eles tanto merecem. E para tanto, nós, do Movimento Sindical, vamos lutar. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos anunciar, também, a presença, neste Plenário, do Presidente da CUT-RS, sindicalista Jairo Carneiro. Queremos dizer aos senhores e senhoras que o ato o "Fórum da Luta contra a Reeleição" a realizar-se na Esquina Democrática, estará aguardando o término desta Reunião para que os oradores, já inscritos, possam terminar seus pronunciamentos. Então, aqueles que quiserem participar - este é o convite que tenho sobre a mesa - desloquem-se para esse ato.

O Sr. Geraldo Cruz está com a palavra. Fala pela Comissão Gaúcha em Defesa do Monopólio Estadual do Petróleo e Petrobrás.

 

O SR. GERALDO CRUZ: Sr. Presidente, companheiro Clovis Ilgenfritz; Sr. Prefeito de Porto Alegre; demais integrantes da Mesa; Srs. Vereadores, senhoras, senhores, companheiros. As pessoas que me antecederam neste microfone foram pródigas em afirmações a respeito do que ocorre neste País: um Presidente que assumiu como o primeiro mandatário da Nação diante de uma campanha enganosa e não está cumprindo com aquilo para o qual o povo o elegeu. Completando: atendendo compromissos que não são de interesse do povo e da Nação brasileira, e sim regras estabelecidas fora das nossas fronteiras, a exemplo da Argentina, do Peru, que nos apresentam a proposta de reeleição. Um dos pontos que nos chamou a atenção, de alguns Vereadores que assumiram esta tribuna, é a questão legal e como foi colocado com muita propriedade por duas pessoas que me antecederam no microfone. O Congresso, que foi eleito, não tem legitimidade para fazer o que está fazendo contra a Nação e o povo brasileiro, e, acima de tudo, contra a Constituição, que é a lei maior que rege qualquer nação democrática e independente. Um setor específico que a Comissão Gaúcha aborda: a questão do monopólio estatal. O que se está fazendo, em termos de alteração de capítulos da ordem econômica da Constituição brasileira, é um crime que a história certamente condenará, e todos os parlamentares, pelos mais variados motivos, alguns dos quais com um conhecimento geral completamente espúrio, certamente, serão condenados. Então, o que a Comissão Gaúcha traz aqui é se aliar ao movimento que está surgindo em Porto Alegre, e mais uma vez marca ponto, dando exemplo contra esse crime de lesa-pátria, que lesa os interesses do povo e da Nação brasileira. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. José Campos está com a palavra, representando o Movimento dos Sem-Terra.

 

O SR. JOSÉ CAMPOS: Componentes da Mesa, Srs. Vereadores, companheiros das entidades populares aqui presentes. Acredito que não tenhamos que fazer grandes discursos, porque, se fosse pelos discursos bonitos de televisão, o nosso Brasil e os nossos brasileiros estariam melhor. O que entendemos, em curtas palavras, é que, infelizmente, no nosso País, hoje coloca-se a reeleição do Presidente da República - e não por ser o Sr. Fernando Henrique Cardoso, poderia ser qualquer outro representante do lado deles - como a solução para o País. E nós entendemos que é muito mais para dar continuidade a esse projeto que está levando o povo à falência e o próprio Presidente diz que quer fazer um Brasil para 30%, entregar a nossa Nação para os norte-americanos.

Por isso é muito mais um protesto, e nós, do Movimento dos Sem-Terra, estamos descontentes e manifestamos, com os companheiros, junto com outros trabalhadores e forças, a nossa inquietude e vamos continuar protestando. Se hoje o Parlamento, o Congresso Nacional aprovar essa Emenda, achamos que o Congresso Nacional vai ter responsabilidades e vai ter que prestar contas a nossa Nação, assim como qualquer Câmara de Vereadores vai ter que prestar contas da falência a que vai ser levado o nosso povo. Só quero manifestar que encabeçamos um abaixo-assinado entre entidades presentes, já com a participação dos Vereadores e de mais autoridades presentes, para enviarmos a todos os gabinetes dos Deputados que vão, hoje à tarde, votar em Brasília, para que fiquem sabendo que estão sendo fiscalizados pelo povo. Gostaria de dizer isso, e, com a concordância dos companheiros, encaminharemos essa proposta para Brasília. Muito obrigado. ( Palmas. )

 

 (Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Elói Guimarães, que representa a Direção Estadual do PDT.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, companheiros da Mesa, representações sindicais, lideranças comunitárias, Vereadores. É preciso, Sr. Presidente, Companheiros, que inicialmente se destaque a importância deste ato. Este ato é exatamente representativo dos anseios da Cidade porque aqui estão os Vereadores, está aqui o Chefe do Poder Executivo, Raul Pont, lideranças comprometidas com as lutas dos trabalhadores. Então, nos reunimos na Casa do Povo de Porto Alegre para este ato que, por isso, é importante. E é preciso que se faça, companheiros, porque amanhã quando a História nos cobrar, como já nos cobrou, vamos dizer de que lado nós nos encontrávamos.

Quando vinha para esta Casa, Companheiros, vinha-me lembrando do tributo que nós pagamos para conseguir a democracia e a liberdade. Foi um tributo de sangue, de lutas imensas quando a ditadura implantada neste País fazia com que todos nós fôssemos para as ruas, inclusive, para a luta armada. Esta não é a democracia que nós fomos buscar, evidentemente que não. Nós queríamos a democracia, mas que a liberdade fosse respeitada. E o que acontece hoje no País? Em recesso parlamentar, em Sessão Extraordinária se modifica a Constituição! Não se trata aqui, Companheiros, de discutir se é válida, democraticamente, a reeleição ou não. Esta não é a questão. A questão que está em jogo é a usurpação que o Governo faz, que o Presidente faz. Sai da sua investidura de Presidente da República e vai para o palanque eleitoral fazer a sua campanha para a Presidência da República. Mas que  hora mais inadequada para alterar a Constituição! E há um aspecto importante da Carta. Essa decisão que os constituintes tomaram tinha, sim, o respaldo da Nação, mas essa alteração não tem, a não ser as afirmações de famigeradas pesquisas dizendo que o povo está  a favor. Então, fica aqui o protesto do PDT, que tem posição nacional clara sobre o assunto, contrária a esse ato de casuísmo autoritário, que pretende a continuidade que está levando este País a uma situação desesperadora. Os interesses internacionais estão tomando conta da economia brasileira. As empresas estatais estão caindo nas mãos dos grupos internacionais. Quem é a favor da reeleição quer que se entreguem aos grupos internacionais os interesses legítimos do nosso País. Quem é contra a reeleição não quer que se entregue a Vale do Rio Doce. E vamos para as ruas! Não podemos mais ficar adstritos às salas parlamentares; temos que ir para as ruas. Querem entregar a Vale do Rio Doce a interesses multinacionais. Muito obrigado.

 

(Não revisto  pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Secretário-Geral da Direção Estadual do PT, Davi Stival, está com a palavra.

 

O SR. DAVI STIVAL: Sr. Presidente, ao cumprimentá-lo, quero saudar a todos os demais presentes a esta reunião tão importante, que discute um problema de tamanha envergadura. Sobre esse tema, gostaria de dizer que a forma como essas cartas são dadas, e jogadas, faz aumentar nossa indignação. O fisiologismo com que o Governo atua para atingir os seus objetivos faz com que fiquemos ainda mais indignados e vilipendia ainda mais nossa frágil democracia. Todos sabemos qual é a realidade da reeleição: é o agravamento do desemprego, a falência da agricultura, a quebradeira da pequena e média empresa, enfim, o caos da saúde e da educação e tantos problemas sociais que hoje este País vive.

Tive a oportunidade, na semana passada, visitando algumas Prefeituras do Alto Uruguai, do Norte do Estado, de ver essa realidade concretamente. O caos financeiro é de se horrorizar. Isso acontece porque as demandas e as despesas aumentam e as receitas diminuem na medida que a agricultura está falida, o pequeno e médio comércio estão quebrando. Essa realidade vem reproduzindo realidades que acompanhamos em Sto. Antônio das Missões, onde 3 mil famílias de pequenos agricultores se submetem a uma situação degradante, debaixo de lonas, passando as maiores precariedades, para tentar buscar apenas um instrumento de trabalho. Não é nem o trabalho nem o ganha-pão: é o instrumento de trabalho, que é a terra.

Os agentes financeiros, do cartel internacional, querem, através do Plano Real, dar continuidade a esse processo de exclusão de um terço da população brasileira.

Independente do resultado que vamos ter hoje à noite, já anunciado e decantado pelo Governo, temos que continuar protestando, denunciando, ir até a Esquina Democrática continuar o nosso protesto. Não podemos ficar de braços cruzados, acomodados. Essa atitude é a dos covardes, e não o somos.

Se eles querem, através da manipulação, que é a forma que fazem a dominação sobre os excluídos, nos jogar à marginalidade total, temos, sim, capacidade de reação, e temos que nos unir.

É essa mensagem que quero trazer em nome do PT: independente do resultado de hoje à noite, continuemos nas ruas protestando e dizendo não à reeleição, não ao desemprego, não à falta de política agrícola, não ao caos da saúde e não à falência das pequenas e médias empresas. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Presidente Estadual do PCB, Daniel Sebastiani, para fazer uso da palavra.

 

O SR. DANIEL SEBASTIANI: ( Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando duas crianças brincam e uma tenta fazer uma trapaça, a outra, normalmente, diz: "Não, isso não vale". Todo mundo sabe, desde criança, que, em qualquer coisa em que trabalhamos em conjunto, se tem que ter regras. E que, sobretudo nos jogos e nas disputas, as regras são definidas no início e não durante, e não dependendo da situação.  Todo mundo sabe, reeleição, até uma criança sabe, quem é o beneficiário; pois eles estão querendo mudar as regras do jogo, do mesmo jogo, para beneficiar justamente aquele que faz as regras. Mas, Sr. Presidente, para nós, aqui, não se trata de um jogo de criança que está sendo jogado. Trata-se, na verdade, do futuro da Nação brasileira. Trata-se, na verdade, de um projeto que, vocês podem ter certeza, é o pior projeto que se tentou aplicar em toda a história deste País. No passado tentaram aplicar muita coisa em cima de nós. É um projeto que está acabando com o patrimônio da Nação, que está entregando o solo deste País; que está entregando o mar deste País; que está entregando as telecomunicações deste País, os avanços científicos; que está entregando os trabalhadores deste País; que está entregando a mão-de-obra deste País, através da pseudomoeda forte que está fazendo com que as nossas exportações não consigam mercado, trazendo as importações para o nosso País, gerando mais brasileiros desempregados, dando emprego para os alemães, como se não precisássemos disso, aumentando o lastro do desemprego. Uma política econômica que tem arrochado os salários, arrochado mais e mais. Uma política econômica altamente perversa que desenvolve uma taxa de juros que não tem igual no mundo inteiro. Uma remuneração privilegiada para o capital internacional.

Até parece que o Brasil é o País mais rico do mundo, porque o capital internacional, quando vem aqui, recebe uma remuneração que nem nos Estados Unidos dão, mas eles conseguem essa remuneração porque eles exploram a mão-de-obra do brasileiro. Esse é o projeto que está em disputa. É isso que eles tentam manter neste País; entregar, com este projeto absurdo, esse neoliberalismo que eles querem manter através da reeleição. É um projeto tão podre, tão podre e não se parece a Prefeitura de Porto Alegre. Sabem por que estou dizendo isso? Porque vieram falar, aqui, do uso da máquina, que quem está no governo tem mais facilidade, porque nós éramos Governo e continuamos Governo. Óbvio. Mas, para encerrar, Sr. Presidente, houve uma disputa: primeiro, foi Olívio Dutra, depois Tarso Genro e, agora, Raul Pont. A verdade é que, se não fosse esse Prefeito desta Cidade, seria outro da nossa Administração.

Mantivemos o Prefeito pelas realizações da Administração Popular. Não há necessidade de se manter a mesma figura, o que importa é o projeto, não a figura. A nossa elite é tão podre, tão falsa, trabalha tanto com a mentira, que não tem ninguém para colocar no seu lugar.

Não vão ganhar a eleição com esse projeto neoliberal. A Administração Popular tem projetos, e cada um desses projetos são concretos, por isso, a população aprova o seu Governo.

Eles querem aprovar a reeleição, mas o povo brasileiro não vai deixar que esse causísmo passe. Cada companheiro fez o seu papel, mas as elites brasileiras não têm ninguém para substituir o Fernando Henrique Cardoso. Por isso, pela podridão em que estão, querem aprovar a reeleição, mas o povo brasileiro não vai deixar, aconteça o que acontecer. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Presidente Estadual do PC do B, Adalberto Frasson.

Após o seu pronunciamento, estaremos concluindo o ato para atender o convite do Fórum de Luta Contra a Reeleição, que está realizando um ato na Esquina Democrática.

 

O SR. ADALBERTO FRASSON: Sr. Presidente, Sr. Prefeito, demais Vereadores e Vereadoras da Casa, prezados companheiros, membros da Mesa, quero parabenizar esta Casa por esta importante reunião, como já foi dito aqui, num grave momento  em que vive o nosso País. Mais uma vez, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre demonstra sua trajetória em defesa da democracia e da luta do nosso povo explorado e sofrido.

Na história do nosso País, companheiros e companheiras, já vimos a democracia ser pisoteada pelas botinas dos generais, dos tanques e por outras formas ditatoriais que percorreram por muito tempo o nosso País. Hoje, espantosamente, nós vemos essa mesma democracia ser colocada por terra, através de outros instrumentos, através da poderosa máquina que é a mídia, dos grandes jornais, das televisões, através do oba-oba do Governo, da entrega de cargos e favores aos Deputados, de uma convocação espúria, enquanto o País vive momentos de relativa tranqüilidade do ponto de vista do povo, que não está mobilizado. O Governo chama o Congresso para votar algo que, em nenhum momento da nossa história, as elites tiveram condições de tentar implementar neste País. A reeleição, companheiros e companheiras, é um golpe sem as armas, sofisticado, que a ditadura do Fernando Henrique tenta para se perpetuar no poder, com o objetivo de levar adiante este Projeto antipátria, antipovo, com o objetivo de continuar sufocando os interesses de uma Nação progressista, uma Nação com desenvolvimento para o nosso povo, com justiça e com igualdade. Por isso, companheiros, o povo de Porto Alegre, aqui representado pelos seus Vereadores, pelas suas lideranças, pelas suas entidades, quer demonstrar muito claro que vai resistir a esse golpe, que nós queremos um País diferente. Nós não aceitamos que Fernando Henrique, que foi um lutador pela democracia - hoje, é o principal carrasco de nosso povo - é o principal carrasco da democracia e quer enfiar goela abaixo, na pressão, no oba-oba, esse projeto espúrio, que é a reeleição. Por isso, o PC do B se soma a essa luta para demonstrar que o nosso povo não está de cabeça baixa, mas, sim, que vai lutar pelos seus direitos, pela defesa do País e da democracia. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Abrimos espaço para o Ver. Idalmir Feitosa, que representa a Câmara Municipal de Fortaleza, para um rápido pronunciamento.

 

O SR. IDALMIR FEITOSA: Sr. Presidente, Sr. Prefeito Municipal, colegas desta Casa Legislativa, galeria presente que ornamenta, de forma muito forte, esta solenidade cívica pela qual eu quero parabenizar todos os Vereadores que aqui congregam e formam esta festividade.

De passagem por Porto Alegre, não poderia deixar de vir à Casa do Povo, até porque me sinto no terceiro mandato na Cidade de Fortaleza, muito feliz em agradecer, à Casa Legislativa a que pertenço, essas lições de democracia. Há um mês, pude ter consciência de que bem próximo da Casa do Povo existe o Parque da Harmonia. Que o princípio do contraditório nesta Casa Legislativa seja sempre pautado pela ética, pela moral, pela dignidade do respeito ao povo, mas que o Parque da Harmonia dê a esta Casa, sempre, a elevação espiritual da harmonia para que o povo gaúcho possa ser este grande exemplo de bravura e chama cívica que tem deitado no berço brasileiro. Deixo uma mensagem aqui, pedindo à Bancada do PT, a maior desta Casa, que me ajude numa campanha nacional que quero fazer em todas as Casa Legislativas dos municípios, das capitais, principalmente: vamos acabar com o voto secreto nas Casas Legislativas. No dia em que nós acabarmos com os votos secretos nas Casas Legislativas, o político vai ter credibilidade perante a opinião pública e o povo vai saber que tipo de Vereador mandou para as Casas Legislativas. Votar secretamente, nas Casas Legislativas, no meu modo de entender, é uma farsa e um golpe contra a democracia, principalmente contra as decisões que devem ser formuladas e decididas de um comportamento ético a toda  prova. Muito obrigado ao povo gaúcho, aos meus companheiros, a todos os Vereadores e, desculpem, mas não poderia deixar de fazer o meu agradecimento; o meu braço fraterno ao povo gaúcho. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Esclarecemos ao ilustre Vereador que esta Casa se honra e se orgulha de há muito tempo não ter mais a instituição do voto secreto, por decisão dos Vereadores.

O Deputado Beto Albuquerque, Presidente Estadual do PSB, está com a palavra.

 

O SR. BETO ALBUQUERQUE: Sr. Presidente, prezado companheiro socialista Ver. Garcia, em nome do qual tomo a liberdade de cumprimentar todos os senhores e senhoras; Vereadores desta Capital, que orgulham, sem dúvida, pelo seu intenso trabalho parlamentar; saúdo o Sr. Prefeito Municipal, Raul Pont, demais representantes de partidos políticos; colegas deputados estaduais, Deputada Maria Augusta, Deputada Cecília, Deputado Bohn Gass; Movimento Popular, comunitário, Movimento dos Sem-Terra, enfim, todos que aqui prestigiam este ato.

Inicialmente quero dizer que é motivo de honra para nós, do PSB, podemos usar a tribuna desta Casa Legislativa neste dia importante. Sem dúvida, haverá de marcar época na história do nosso País qualquer que seja o resultado que vamos conferir no Congresso Nacional. A reeleição posta neste momento que vive o nosso País é, indiscutivelmente, um dos maiores casuísmos históricos que esta Pátria irá recolher, um casuísmo somado ao fisiologismo, e, sempre às intenções golpistas. Casuísmos, porque para uma Nação que vê, a cada dia, crescerem as mortes no campo, crescer a miséria, a pobreza, o desemprego, para uma Nação, politicamente, para ter o destino de uma pessoa chamada Fernando Henrique Cardoso, hoje favorável à reeleição, ontem contrário; hoje, Presidente da República; ontem sociólogo com pensamento de esquerda e revolucionário. Nós estamos, ao discutir a reeleição neste País, conferindo o privilégio de nação subdesenvolvida, que é capaz de alterar a sua ordem constitucional para fazer a vontade de um mandatário. É isso que este País está fazendo neste momento: curvando-se, como se dobradiça na espinha tivesse, à vontade de um homem, porque reeleger, Srs. Vereadores, Sra. Vereadora, projetos políticos, já é permitido aos governos neste País. A Administração Popular em Porto Alegre é a prova de que, se o povo quer, reelege projetos políticos. O que se está querendo inaugurar neste País é a reeleição da figura que, no neoliberalismo, é conhecida como “bom de papo”, “perfil de esquerda”, “trânsito no Congresso” e “grande negocista”, para se transformar num “grande entreguista”. É isso que está em jogo neste País, nesse casuísmo que submete a tudo e a todos aos mais altos interesses deste País, para estarmos debruçados a um tema que interessa a uma pessoa só numa relação de fisiologismo. Quero aqui, como Presidente Estadual do PSB,  repelir, com veemência, a participação de alguns deputados federais do nosso Partido nesse rol de fisiologismo, de interesses, de negociatas que estão trocando a vida  do povo por mais um mandato a Fernando Henrique Cardoso. Além de tudo, há uma expressão profunda de golpe à Nação, ao estado de direito que se  está a processar ao ser alterada a Constituição por um Congresso sem a característica do Congresso ordinário.

Quero dizer que nós estamos associados à indignação daqueles que ainda não se deixaram vacinar pela hipnose da grande mídia, que ainda não se deixaram vacinar pelo descontrole de alguns setores da esquerda mal-orientada ou da direita bem-orientada. Nós somos chamados, hoje, à indignação, à revolta, e é isso que precisamos construir para enfrentar o desmonte, o atropelo, esse trator feroz do desmonte, o atropelo, esse trator feroz do desmonte e do desrespeito à cidadania que é o neoliberalismo.

Continuemos na luta, não nos entreguemos. Pois, como dizia João Carlos Vaz Sobrinho, numa homenagem ao PC do B: "Seja como for, mais cedo ou mais tarde nós venceremos, porque a nossa causa é justa". Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos a palavra ao Prefeito, um aviso: o Movimento dos Trabalhadores Gaúchos convida todos, entidades e partidos, a fim de continuarmos a organização da luta contra a reeleição, para uma reunião na quinta-feira, às 9 horas, na Federação dos Metalúrgicos, na Galeria Santa Catarina, 10º andar.

Aviso ainda que, ao término desta reunião, poderemos sair em conjunto da rampa da Câmara para a Esquina Democrática.

Com a palavra o Prefeito Raul Pont.

 

O SR. RAUL PONT: Ver. Clovis Ilgenfritz, Presidente desta Casa; demais dirigentes partidários que compõem a Mesa; nobre Vereador de Fortaleza, que nos honra com sua presença e com sua visita à Cidade; Srs. Vereadores; dirigentes sindicais; parlamentares; lideranças comunitárias presentes; Senhoras e Senhores.

Quero agradecer o convite que esta Casa fez ao Executivo para que estivesse presente neste debate. Nós participamos de forma ativa do debate porque tomamos parte, seja em posicionamento ou iniciativas, nesse campo, como Prefeito da Cidade. Acatamos o convite e queremos registrar alguns argumentos e opiniões sobre o tema.

Entendemos que a melhor forma de propiciarmos esta discussão é aceitarmos o repto colocado pelos Ver. Záchia e Ver. Pujol e discutirmos mais a tese aqui em debate, e é isso o que quero fazer.

É legítimo os Vereadores manifestarem a sua opinião sobre a política econômica, sobre as conseqüências que vivemos neste momento. Quero discutir, exatamente, a tese que é o objetivo desta reunião, e discutir à luz da nossa história republicana, à luz das experiências que vivemos na América Latina, em outros países e também aqui no Rio Grande do Sul. Não é verdade que o direito à reeleição é uma conquista democrática ou um direito que está sendo usurpado ou, ainda, não conquistado pelo povo brasileiro. Ao contrário, o fato de, em todas as constituições republicanas, esse direito ou pretenso direito não estar consignado é, exatamente, porque a nossa República se colocou contra uma visão imperial que existia no País no século passado e entendeu, ao longo de todas essas Constituições, que o mandato de quatro anos e a sua renovação são elementos muito fortes para que a população controle, fiscalize e tenha a oportunidade de pedir mais nas decisões de governo, de quatro em quatro anos.

Não é verdade que isso é um direito a ser conquistado; o direito a ser conquistado é nós ampliarmos a democracia; é acabarmos com a Medida Provisória que, de maneira ditatorial, o Governo está usando há vários anos. A medida necessária e democrática para que avancemos no processo democrático é garantirmos uma real proporcionalidade da representação política dos Estados no Congresso Nacional,  coisa que não existe e que distorce, deforma e não representa, efetivamente, a população. Se nós quisermos avançar na democracia, precisamos acabar com essa duplicidade de funções que hoje existe no Congresso, entre Senado e Câmara. A Câmara é a representação da cidadania eleita pelo voto direto, proporcional, e tem que ser igual para todo o País. O voto do Senado, que é o voto majoritário, representativo da Federação, não pode ter as mesmas funções que tem hoje, porque tem o poder de legislar de maneira idêntica à da Câmara. Se quisermos avançar com a democracia, nós temos que resolver esses problemas e não tentar traduzir ao povo que essa questão da reeleição é um elemento que avança nossa democracia.

Se quisermos, efetivamente, democracia, temos de dar à população e aos partidos o direito de acabar com essa ciranda que deputados federais e senadores realizam, mudando de partido. Na última Legislatura tivemos a metade do Congresso Nacional alterando o respeito que deviam aos eleitores, mudando de partido. Essas questões é que vão fazer avançar a democracia. Eu pergunto aos Senhores: o continuísmo de Borges de Medeiros, no Rio Grande do Sul, cuja Constituição específica, dentro da autonomia federativa da República Velha, permitia a reeleição, melhorou ou propiciou democracia no nosso Estado? Ou todos nós não sabemos que o continuísmo foi garantido exatamente pela manipulação e controle da máquina pública que existia no Estado? Avançou a democracia no Peru com direito a Fujimori se reeleger? Avançou a democracia na Argentina com direito a Menen se reeleger? A democracia americana, com a reeleição de Clinton, deu passos positivos ou viveu a maior abstenção da sua história? Menos de um terço da população americana vai usar o seu direito de voto exatamente pelo processo viciado, pelo controle da máquina, pela manipulação do dinheiro público, pelo uso do poder econômico! Esses são os elementos que temos de colocar em jogo neste momento. Esse tema me leva, como parlamentar que já fui, como Prefeito neste momento, como liderança partidária, como alguém que não quer ser beneficiado por um processo que dá à revelia das condições em que eu fui candidato, de cujo processo me orgulho, a estar aqui defendendo a não-reeleição. Essas são as razões que me trouxeram aqui. Quero, mais uma vez, renovar os meus agradecimentos ao Presidente, aos Vereadores, pelo convite feito para que participássemos deste debate.

Mas, Sr. Presidente, não quero terminar a minha intervenção sem fazer um registro que eu entendo necessário. Os Srs. Vereadores têm todo o direito, todos os instrumentos e mecanismos para fiscalizar o Poder Executivo. Algumas acusações feitas aqui pelo Ver. Luiz Braz são infundadas, porque os Vereadores dispõem do Tribunal de Contas para averiguar as nossas atividades, se nós cumprimos ou não as determinações legais com os gastos públicos. Refiro-me a outra coisa, pois senti-me direta e pessoalmente ofendido. Foi a mim que se dirigiu o Ver. Luiz Braz. Eu tenho o maior orgulho de ter me afastado da condição de Secretário do Governo, no ano passado, e de ter renunciado, inclusive, ao salário de Vice-Prefeito, o que a lei não me obrigava, desde o momento em que fui indicado candidato do meu Partido, numa prévia, no mês de abril do ano passado. Cumpri as exigências, mesmo não tendo dispositivo legal para tanto, mas por uma questão de compromisso político e de compreensão ética dessas relações. Portanto, repudio totalmente as acusações feitas pelo Ver. Luiz Braz de que fiz uso da máquina administrativa para me eleger. Cinqüenta e cinco por cento dos votos que tive na eleição do ano passado foi fruto de dois mandatos de trabalho, de respeito profundo com a democracia participativa, que nós construímos nesta Cidade. Não poderia deixar de registrar que repudio, frontalmente, qualquer tipo de acusação, como  foi feito, aqui, pelo Ver. Luiz Braz. Acho que foi uma grosseria inadmissível. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em nome da Presidência da Mesa, do Secretário que esteve conosco, agradeço a todos pela presença. Somo a minha palavra, como Vereador desta Casa, à dos que se manifestaram aqui, em nome do meu Partido, contra a reeleição. É um direito de cada Vereador. Obrigado a todos.

 

Os trabalhos estão encerrados.

 

(Encerra-se a Reunião às 12h30min.)

 

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